Fórum Romano
O Fórum Romano era o centro de convivência de Roma, onde a maior parte dos prédios governamentais e templos religiosos ficavam. É a sede também da Via Sacra(22), na qual os imperadores desfilavam em eventos relevantes.
Do lado de fora estão o Coliseu e o Arco de Constantino. O Coliseu é considerado o fim da via, que ‘começa’ na Piazza Venezia.
Logo na entrada há o arco de Tito(1), em celebração à vitória romana contra Jerusalém em 70 d.C..
Titus Flavius Caesar Vespasianus Augustus; Roma, 30 de dezembro de 39 – Roma, 13 de setembro de 81, foi imperador romano entre os anos de 79 e 81.
Antes de ser proclamado imperador, alcançou renome como comandante militar ao servir sob as ordens do seu pai na Judeia, durante o conflito conhecido como a primeira guerra judaico-romana (67 — 70). Sitiou e destruiu Jerusalém (70 d.C.), cujo templo foi demolido no incêndio (muro das lamentações - Jerusalém). A sua vitória foi recompensada com um triunfo e comemorada com a construção do Arco de Tito.
A inscrição no arco diz "O Senado e o Povo Romano (dedicam este monumento) ao divino Tito Vespasiano Augusto, filho do divino Vespasiano."
Após o arco, entrando à direita e retrocedendo um pouco, está a Piazza di Santa Francesca Romana(3), de onde se tem uma vista panorâmica do Coliseu. É onde está também o Templo de Vênus.
Voltando pela via e entrando novamente à direita, encontra-se a basílica de Maxêncio(2) (às vezes conhecida como basílica de Constantino). Uma basílica, na Roma antiga, não era um edifício religioso, tratava-se de um prédio governamental, muitas vezes sede de julgamentos.
Havia uma estátua enorme do imperador Constantino nesse local, da qual sobrou apenas a cabeça de mármore, que está no museu no monte Capitolino.
Marco Aurélio Valério Maxêncio (em latim: Marcus Aurelius Valerius Maxentius; 278 - 28 de outubro de 312) foi um autoproclamado imperador romano, que governou a Itália e a África entre 306 e 312. Ele teve o reconhecimento do Senado Romano, mas não o dos augustos Galério e Severo (que ele havia matado), que reconheceram Constantino, enquanto Maxêncio também o obteve através da força militar, para a qual ele é considerado por muitos como um usurpador.
Pegando novamente a via principal, após um pórtico do séc XII, o próximo prédio à direita, um templo circular, inteiramente construído de tijolos, coberto com uma cúpula e precedido por uma acentuada fachada côncava em que há quatro nichos destinados a estátuas, é o chamado Templo de Rômulo(5). No entanto, não é dedicado ao famoso fundador de Roma. Pode ser uma homenagem a Rômulo, filho de Maxêncio, que morreu na infância, mas a hipótese mais provável é que seja o Templo dos Penates (os Penates eram os deuses do lar, adorados tanto pelos romanos quanto pelos etruscos, responsáveis pelo bem-estar e a prosperidade das famílias).
O portal é flanqueado por duas colunas de pórfiro (raríssimo, considera-se extinto atualmente), com capitéis de mármore branco, que sustentam uma arquitrave (viga que repousa sobre os capiteis das colunas), também de mármore branco, ricamente entalhada. A porta de bronze é original.
À frente do Templo de Rômulo está a Casa das Virgens Vestais(9), que era a sede do colégio sacerdotal das Vestais na Roma antiga, localizada no Fórum Romano. Ficava atrás da Regia e fazia parte de um complexo com o Templo de Vesta, chamado Atrium Vestae.
As virgens vestais eram sacerdotisas consagradas à deusa Vesta. Uma das primeiras vestais conhecidas teria sido Réia Sílvia, a mãe de Rômulo, o primeiro rei de Roma. Sua sucessora Numa Pompílio é creditada com o estabelecimento em Roma do culto à deusa Vesta, deusa da lareira e do fogo e com a criação do colégio de virgens sagradas sob sua custódia, chamadas vestais.
O nome antigo de Atrium Vestae referia-se originalmente a uma área aberta próxima ao Templo de Vesta, sede do culto da deusa, cercada por construções. A residência das Vestais fez parte deste conjunto a partir do século II a.C., ocupando a área entre a Regia, a Domus Publica (a residência do pontífice máximo) e as encostas do Palatino. Sob esses restos, foram repetidamente encontrados vestígios de construções anteriores, em estreita ligação com as reconstruções da Regia, datando até o século VI a.C.. Nas recentes escavações de Andrea Carandini, foram encontrados os restos de uma cabana do século VIII a.C., interpretada como a casa das Vestais da era régia.
O templo já era cercado por um recinto unido à casa, e não se sabe se já tinha planta circular. Em qualquer caso, a entrada voltada para o leste manteve-se nas reconstruções subsequentes. Em 12 a.C., Augusto, na qualidade de pontífice máximo, doou às Vestais a Domus Publica, residência do pontífice onde também morou Júlio César. Provavelmente após o incêndio de 64 d.C., o complexo foi reconstruído em um nível mais alto, com uma nova planta e orientação, em conformidade com as outras construções que cercavam a praça do Fórum. Os restos atualmente visíveis foram trazidos à luz pelas escavações de Lanciani (1884) e de Boni (1907) e pertencem a uma reconstrução datável, com base nos bolli laterizi ("marcas de fábrica" impressas nos tijolos utilizados nas construções), principalmente à época de Trajano. A ala ocidental, com o Templo de Vesta, foi restaurada na época severiana após um incêndio em 191 d.C.
Com a abolição dos cultos pagãos decretada por Teodósio I em 391 e a derrota dos últimos defensores do paganismo em Aquileia em 394, a casa foi abandonada pelas últimas vestais e foi reocupada, em parte, pela corte imperial primeiro e depois pela corte papal.
As inscrições nas bases datam da última fase do edifício, da época severiana, ou posteriores. São elas:
Numisia Maximilla, 201 d.C.
Três de Terentia Flavola, de 209, 213 e 215
Duas de Flavia Publicia, 247 e 257
Coelia Claudina, 286
Outra base de 364 no lado sul, perto da escada que sobe para a via Nova, apresenta o nome de uma vestal apagado, do qual só se reconhece a primeira letra, "C". Pode-se tratar da vestal Cláudia, mencionada pelo poeta cristão do final do século IV, Prudêncio. Ela havia abraçado a fé cristã e, por isso, seu nome teria sido coberto pela infâmia dos últimos adeptos do paganismo.
O Templo de Vesta(7) é o mais elegante do Fórum. É uma construção circular, originalmente cercada por um anel de 20 colunas caneladas, erguido no século IV d.C., no mesmo local onde havia um templo muito mais antigo.
O Templo de Vesta era considerado o lar doméstico mais importante na Roma Antiga. Originalmente, as filhas do rei eram encarregadas de cuidar do fogo sagrado. No entanto, foram substituídas por um grupo de sacerdotisas, as Vestais, que formavam o único sacerdócio feminino de Roma. Essas seis sacerdotisas eram responsáveis por manter o fogo sagrado aceso e por realizar outros rituais, todos eles estreitamente ligados ao culto doméstico.
O templo atual é resultado de uma restauração realizada em 1930. Selecionadas em tenra idade (entre 6 e 10 anos) de famílias patrícias, as Vestais deveriam permanecer no sacerdócio por um período de 30 anos, mantendo a virgindade. A pena para a vestal que violasse essa regra era a morte: ela seria enterrada viva pois o sangue da vestal não podia ser derramado. Em troca, a vestal gozava de grandes privilégios, como não estar mais sujeita à autoridade do pai, além de possuir recursos financeiros e prestígio imensos. No seu estado atual, o edifício corresponde ao último restauro, executado pela esposa de Septímio Severo, Júlia Domna, após o incêndio de 191 d.C.. Ele consiste em um pódio de concreto revestido de mármore, ao qual se encostavam as bases que sustentavam a colunata coríntia. O fogo sagrado era mantido aceso dentro da cela, enquanto o teto cônico tinha uma abertura para permitir a saída da fumaça. As Vestais também eram responsáveis por guardar o Paládio, a estátua sagrada da deusa Atena Pálade.
Imediatamente ao lado do Templo de Rômulo(5) está o edifício, facilmente identificado pela inscrição dedicatória na arquitrave, que foi dedicado em 141 d.C. a Faustina, esposa de Antonino Pio, que faleceu e foi divinizada naquele mesmo ano. Posteriormente, foi também dedicado ao próprio imperador após sua morte em 160 d.C. É o Templo de Antonino e Faustina(6).
A construção está sobre um alto pódio de blocos de pedra vulcânica, precedido por uma escadaria que foi reconstruída em tijolos durante um restauro moderno. No centro da escadaria havia um altar para rituais religiosos realizados externamente, na presença do povo.
A fachada do edifício exibe seis colunas de mármore cipollino (verde com veios brancos) com 17 metros de altura e capitéis de ordem coríntia em mármore branco. A única cela interna também é construída com blocos de pedra vulcânica, sendo toda revestida de placas de mármore, como é evidente pelas numerosas marcas de grampos nas paredes.
As ranhuras oblíquas visíveis na parte superior das colunas são o resultado de um fracassado esforço para derrubar a estrutura usando cordas ou correntes, com o intuito de recuperar e reutilizar os materiais.
A partir do século VII, o edifício foi convertido em uma igreja cristã dedicada a São Lourenço, conhecida como "in Miranda", da qual resta a fachada do século XVII voltada para o Fórum.
Em frente ao Templo de Antonino e Faustina está o Templo do Divino Júlio(8) (aedes Divi Iulii) é um templo dedicado a Caio Júlio César, que foi divinizado após sua morte. César foi o primeiro romano a ser divinizado e homenageado com um templo após sua morte, depois do mítico fundador Rômulo.
O templo tinha um estilo clássico, com uma fachada de seis colunas na frente e duas colunas nas laterais do pórtico, que continuavam com pilastras nas paredes laterais e na parte de trás da cela. Segundo Vitrúvio, o templo tinha um design com colunas muito próximas umas das outras, separadas por um espaço de apenas um diâmetro e meio dos fustes, semelhante ao Templo de Vênus Genetrix no Fórum de César.
A fachada, adornada com os "rostra" (proas de navios) das naves inimigas derrotadas na Batalha de Ácio, possuía um nicho circular no centro, onde estava o altar onde ocorreu o funeral de César. O templo era delimitado ao sul pelo Arco de Augusto e ao norte por um pequeno pórtico que o conectava à Basílica Emília, o chamado Arco de Caio e Lúcio Césares.
Hoje, são visíveis, onde era o porão, os restos do pódio do templo, feito de concreto, originalmente revestido externamente com uma fachada de blocos de tufo, cobertos por placas de mármore. Os vazios atualmente presentes entre os núcleos de concreto são devido à remoção dos blocos de travertino para reutilização no século XV, que constituíam as fundações do colunato frontal e da parede anterior da cela, permitindo identificar com precisão sua posição original. Teoricamente esse foi o local onde Júlio César foi cremado.
Seguindo pela via, após um grande gramado à esquerda, é possível visualizar a Coluna da Foca(21). Trata-se de uma coluna honorária e do último monumento erguido, em ordem cronológica, na praça do Fórum. Destinava-se a sustentar a estátua do imperador bizantino Focas (602-610) e foi dedicada a ele em 18 de agosto de 608 pela Igreja Romana para agradecê-lo, como diz a inscrição, “pelos seus inumeráveis benefícios, pela paz restituída à Itália e pela conservação da liberdade”. Mas, sobretudo, por ter doado à Igreja o maior templo pagão, o Panteão, que foi imediatamente reconsagrado ao culto cristão como Santa Maria ad Martyres. A dedicatória foi feita por Smaragdo, patrício e exarca bizantino, encarregado do sagrado palácio, que reutilizou uma coluna muito antiga, datada pelo menos do século II a.C.
À direita observa-se a Basílica Emília(14), que foi construída pela primeira vez em 179 a.C. pelos censores M. Emílio Lépido e M. Fúlvio Nobilior no local de uma estrutura similar anterior, cujos restos foram identificados em uma escavação limitada.
A basílica rapidamente se associou ao nome da família Emília, que através de seus representantes cuidou da manutenção e dos sucessivos restauros.
O último grande restauro ocorreu após o grande incêndio provocado pelas tropas góticas de Alarico em 410 d.C.
O acesso à basílica era diretamente pelo Fórum, através de três diferentes entradas. O espaço interno era dividido em três partes, conforme o esquema usual desses edifícios, com duas naves laterais mais estreitas e baixas, e uma nave central significativamente mais alta, criando uma espécie de andar elevado.
Da decoração externa e interna, restam apenas alguns fragmentos encontrados nas escavações da área. Em uma moeda emitida por volta de 61 a.C. em nome do magistrado M. Emílio Lépido, é possível ver a fachada desta basílica com dois níveis sobrepostos de dezesseis arcadas sobre pilares com semicolunas, formando um pórtico. O edifício de dois andares provavelmente resulta dos últimos restauros conduzidos pelo cônsul homônimo em 78 a.C., com escudos redondos, possivelmente de metal dourado, pendurados na fachada.
Essa fachada voltada para o Fórum era ocupada por uma série de lojas, como aparece na reconstrução dos restauros modernos, destinadas a várias atividades comerciais, mas também, como nos informa Lívio, a atividades de banqueiros e cambistas.
Em frente, observa-se o Arco de Septímio Severo. Construído em 203 d.C., cruzando a Via Sacra, e foi, como atesta a longa inscrição, com letras de bronze (desaparecidas ao longo do tempo) incrustadas no antigo mármore, dedicado pelo Senado ao imperador Septímio Severo (193-211 d.C.) para comemorar suas bem-sucedidas expedições militares e os cargos que ocupou.
O arco, com três aberturas, é construído em tijolo e revestido de travertino e mármore. Cada fachada é adornada com quatro colunas de estilo composto, cujas bases possuem imagens de soldados romanos e prisioneiros. Nos arcos das duas aberturas laterais estão representadas cabeças de divindades, enquanto nos tímpanos estão figuras fluviais, entre as quais se reconhecem o Tigre e o Eufrates. Na chave de arco da abertura central, voltada para o Fórum, está a figura completa de Marte, e nos tímpanos, em ambas as fachadas, estão representadas as vitórias com troféus e, aos pés, as quatro estações. Os relevos acima das aberturas laterais retratam episódios da guerra contra os partos. O ático era provavelmente encimado por uma quadriga com seis cavalos guiada pelo imperador, conforme aparece em uma moeda datada de 204 d.C.
Durante a idade média, o arco central era usado como cobertura para um barbeiro fazer seus cortes de cabelo.
Seguindo adiante, à direita, fica a Curia Julia(15) — senado romano.
Foi construída no canto noroeste do Fórum Romano; iniciada por Júlio César, mas concluída por Otaviano em 29 a.C. Ela sobreviveu, com várias restaurações, durante o período imperial e foi convertida na igreja de Sant'Adriano al Foro em 630 d.C..
As portas originais de bronze antigo foram transferidas para a Basílica de São João de Latrão pelo Papa Alexandre VII em 1660, onde ainda podem ser vistas hoje.
Em frente à Curia fica o Templo de Saturno(19).
É o templo mais antigo dos romanos, depois do dedicado a Júpiter Máximo no Capitólio, construído em 498 a.C., mas certamente já presente na época régia com uma estrutura mais antiga. Reconstruído por Munácio Planco em 42 a.C., sofreu uma nova e radical restauração após o incêndio de 283 d.C., durante o reinado do Imperador Carino. A inscrição no friso lembra que a reconstrução do templo, realizada pelo Senado e pelo Povo Romano, ocorreu após um incêndio. Atualmente, sobrevivem as seis colunas de granito da frente e as duas primeiras laterais. No vestíbulo do templo, completamente vazio, encontrava-se o erário, o tesouro do Estado Romano, junto com a sede do questor (magistrado responsável pelas finanças) e de seus assistentes.
Seguindo a via principal, no início da subida, é possível ver, em frente, o Templo de Vespasiano(20).
O edifício estava localizado aos pés do Capitólio e em frente ao Tabulário. Foi dedicado ao Divino Vespasiano após sua morte em 79 d.C. e, devido à extensão das obras, também ao Divino Tito após sua morte em 81 d.C. A estrutura atual foi reconstruída na época severiana, com uma fila de seis colunas coríntias na fachada (restando apenas as três colunas de esquina) e uma única cela, da qual restam poucas evidências da elevação e do pedestal da estátua do imperador.
O prédio mais novo que é possível ver da via principal é a Igreja de São José dos Carpinteiros, construída sobre o Cárcere Mamertino(28).
O cárcere é onde acredita-se que São Pedro e São Paulo ficaram presos antes de serem executados, por patrocinarem a fé cristã.
Deste ponto elevado é possível ver onde ficava a Basilica Julia(11).
Sobre os restos e no local de um edifício mais antigo, César, em 54 a.C., mandou construir a maior basílica do Fórum, dedicada à sua gens (família), cujas obras foram concluídas por Augusto. Destruída por um grande incêndio em 283 d.C., na época do imperador Carino, foi reconstruída em suas formas originais por Diocleciano.
Algumas inscrições em bases de estátuas documentam também um novo trabalho de restauração realizado pelo prefeito da cidade, Gabínio Vécio Probano, seis anos após o saque de Roma pelos godos de Alarico (410 d.C.).
Do edifício, resta apenas o pódio com os degraus voltados para o Fórum. A basílica devia ter cinco naves, com um pórtico em frente à praça e uma nave central mais alta para garantir a iluminação interna, similar à Basílica Emília.
Foi a sede preferida, pelo menos por um período, para as atividades dos cambistas, que em algumas inscrições se denominavam nummularii de basilica iulia.
No século IX, na área da nave esquerda, foi instalada a pequena igreja de Santa Maria in Cannapara.